Ao manter um contacto permanente durante mais de quinze anos com crianças e jovens afastados do seio familiar natural, e a viverem em instituições, foi muito fácil tomar consciência que os adultos, com quem eles mais privavam, eram os seus modelos. Quem almeja contribuir para a educação e formação das crianças pretende, acima de tudo, dotá-los de conhecimentos e valores que os acompanhem para sempre e sejam uma mais-valia na sua vida futura. Mas transmitir conhecimentos é muito mais fácil que transmitir valores, pois esses só vivenciando no quotidiano são compreendidos e imitados. Foi dessa necessidade de criar laços fortes e duradouros com os jovens e crianças, em contextos informais, que nasceu o “Projeto Cativar”, implementado durante anos com as crianças e jovens de um Lar de Infância e Juventude. Com este projeto pretendia-se fazer um convite às pessoas para que, cada vez mais se humanizassem, cativassem e se compreendessem. Tendo sempre em mente a obra “O principezinho” e tudo o que ela representa em termos de valores e ensinamentos, foi extremamente gratificante sentir que as crianças e jovens finalmente tinham a noção de pertencer a um grupo securizante, onde se promovia cada vez mais os laços de confiança, amizade, generosidade e responsabilidade. Seguindo o lema “Serás para sempre responsável por aquele que cativares”, tornou-se cada vez mais presente a inquietação com o futuro daqueles jovens que se aproximavam a passos largos do dia, em que ao atingirem o limite de idade permitida para permanecerem naquela que era a sua casa, seriam “convidados” a enfrentar o mundo com uma preparação e apoio reduzidos.
Temendo pouca preocupação institucional com as transições e com o processo de autonomização, e pretendendo compreender melhor o que falhava neste processo, foi desenvolvido um trabalho de investigação que culminou numa tese de Doutoramento apresentada à Universidade de Coimbra “Os desafios da autonomização: Estudo compreensivo dos processos de transição para diferentes contextos de vida, na perspectiva de adultos e jovens adultos ex -institucionalizados”. As conclusões mais inquietantes do estudo passaram pela impreparação de cuidadores, a reduzida instrução para a autonomização e a carência de suporte após a saída do acolhimento, mas se “a fé sem obras é morta”, também a ciência sem aplicabilidade é displicente.
Assim, e dada a duração temporal no contacto próximo com jovens “cativados”, partilhando angústias e soluções para os vários constrangimentos, aumentou a vontade de encontrar apoios para todos aqueles que foram vítimas precoces da sociedade. Os crescentes pedidos de ajuda e a incapacidade de dar resposta a todos de forma sistemática, aumentaram a necessidade de criar uma rede institucional de apoio – neste contexto… nasceu a “PAJE”.